terça-feira, 27 de junho de 2017

Visão do Coordenador

         

Estou no Campus Capivari desde a sua abertura em agosto de 2010 quando o Campus oferecia apenas o curso Técnico em Química Concomitante/Subsequente na área de química. Hoje, além do curso técnico Concomitante/Subsequente, o campus oferece o curso técnico integrado, os cursos superiores de Tecnologia de Processos Químicos e a Licenciatura em química. Temos atualmente 22 professores de química, 2 de educação, 4 de matemática e 3 de física, entre outros de outras áreas de humanas, exatas e biológicas.

Desde o surgimento da necessidade do Campus em oferecer cursos superiores, lutei, junto com outros professores, para o oferecimento do curso de Licenciatura em Química. Essa luta era acompanhada da preocupação em evitar uma formação inadequada do professor, que, em geral, tem uma formação nos moldes tradicionais que não leva em conta as necessidades da sociedade atual, como um fator significativo no impedimento do sucesso na implantação de políticas educacionais eficientes. Nesse sentido, apontamos no Projeto Pedagógico do curso o Parecer CNE/CP 009/2001 que indica como características inerentes ao profissional docente adequado à realidade atual:

- orientar e mediar o ensino para a aprendizagem dos alunos;

- comprometer-se com o sucesso da aprendizagem dos alunos;

- assumir e saber lidar com a diversidade existente entre os alunos;

- incentivar atividades de enriquecimento cultural;

- desenvolver práticas investigativas;

- elaborar e executar projetos para desenvolver conteúdos curriculares;

- utilizar novas metodologias, estratégias e materiais de apoio;

- desenvolver hábitos de colaboração e trabalho em equipe.

O desenvolvimento de tais características nem sempre é contemplado pelos cursos de formação de professores, que apresentam perfis mais conservadores. Além disso, a desvalorização e o descrédito à profissão dos profissionais da educação culminaram em uma escassez de professores do ensino de ciências e matemática nas instituições públicas do Ensino Fundamental e Médio. No panorama atual da Educação brasileira, não basta formar mais professores, mas formá-los conscientes da responsabilidade social e da dimensão política de seu trabalho. Os graves problemas da Educação Básica brasileira, tanto na esfera pública quanto privada, justificam a necessidade de um curso de qualidade, integralmente voltado para a formação de professores que tenham capacidade de enfrentá-los, analisá-los, propor e implementar inovações que busquem a melhoria da qualidade da Educação para todos.

A proposta do Curso Superior de Licenciatura em Química Campus de Capivari, desde a sua concepção, pretendia apresentar uma proposta curricular que tivesse como princípio básico a compatibilização com as novas exigências legais e necessidades sociais. Buscava também uma proposta que possibilitasse situar as licenciaturas como cursos superiores específicos capazes de articularem-se entre si com projetos pedagógicos próprios e em consonância com uma política de formação continuada de professores, evitando-se assim um cenário ainda presente em algumas Instituições de Ensino Superior, no qual a licenciatura aparece apenas como um “apêndice” dos cursos de bacharelado.

Após a aprovação do Projeto Pedagógica e o início do oferecimento do curso em fevereiro de 2015, nos deparamos com problemas típicos dos cursos superiores e em especial de licenciatura como a alta evasão, despreparo dos alunos ingressantes e falta de interesse dos alunos numa formação para ministrar aulas no ensino básico. Por outro lado, como no nosso campus há muitos professores de química, conseguimos reunir uma equipe mais interessada na proposta do curso, do que interessados em cumprir horário e "dar" aulas. Logo no início tivemos a preocupação de não só ensinarmos como os alunos deveriam ministrar aulas no ensino básico, mas tivemos a preocupação de modificar nossas práticas adotando metodologias alternativas como elaboração de projetos, atividades lúdicas de aprendizagem, efetivar a Prática como Componente Curricular e desenvolvimento de projetos interdisciplinares. Com a chegada das professoras da área de educação e dos professores do núcleo básico para o oferecimento dos cursos integrados, desenvolvemos atividades e grupos de estudos para o aprofundamento das questões epistemológicas que acabou culminando no projeto de inovação na licenciatura e no projeto integrador do ensino médio integrado.

Depois de tantos estudos sobre inovações em educação, a proposta de Inovação na Licenciatura, concebida pela Professora Paloma, surgiu como resposta aos nossos anseios de modificação dos moldes tradicionais e ineficientes de transmissão de conteúdos. Como foi de consenso entre os professores, a proposta era no mínimo muito melhor do que os métodos que acabávamos reproduzindo da nossa formação que se baseavam-se em aulas expositivas, experimentos "receita de bolo", listas de exercícios e provas escritas com problemas previamente definidos e irreais.

Confesso que o início foi muito complexo por estarmos iniciando algo totalmente novo para um curso de nível superior, mas tínhamos consciência dessa dificuldade, como qualquer projeto de inovação, mas que colheríamos bons frutos, como podemos notar no post anterior divulgado pela nossa aluna Ana Paula do primeiro ano do curso.

Ainda estamos refinando os dispositivos pedagógicos e as metodologias utilizadas e negociando com os alunos qual a melhor maneira de trabalhar, mas como já sabíamos desde o início, esta metodologia era no mínimo bem melhor do que os métodos tradicionais e estamos observando agora com o final do semestre que os alunos tiveram um salto quântico na autonomia e várias outras competências individuais e sabemos que nos próximos semestre só temos a tendência de melhorar cada vez mais.

Carlos Fernando Barboza da Silva
Professor da Área de Química e Coordenador do Curso
27/06/2017

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Sob o olhar de um aluno…

Primeira semana de aula no Instituto Federal, as expectativas são grandes e surgem as perguntas: Como será o campus? E os novos amigos? Os professores serão legais? As provas serão difíceis? Mas no terceiro dia de aula após a recepção vem a integração e, em meio às apresentações, expõem a novidade de que o método de ensino será bastante diferente do que conhecemos. A curiosidade toma conta da classe, mas  quando ouvimos a frase: “Não vai ter aulas convencionais” instantaneamente todos os alunos ficam inquietos.
No decorrer dos dias estamos empenhados na construção da nuvem de objetivos e a inquietação continua. Alguns alunos estão empolgados na construção da nuvem, outros um tanto exaltados: ”Como aprender sem aulas? Como será isso?” Eu era um desses alunos do último caso, perdida, não sabia aprender sem aulas convencionais, me sentia enganada, prejudicada, mas não queria desistir do curso.
Após um mês letivo a classe está dividida, uma parte dos alunos está feliz com o projeto, outra parte ainda sonha com a volta do sistema antigo e eu ainda era parte dela. Me associo a parte de alunos descontentes a fim de persuadir os professores, de que o sistema não era democrático, que teríamos o direito de escolher. Mas nosso professores, mestres e doutores, humildemente abraçam nossa causa de forma diferente, expondo que também estão tendo dificuldades de se adaptarem, mas cientes de que nós merecemos um sistema melhor, no qual sejamos autônomos, com maior nível de aprendizagem, em que possamos demonstrar nossas aptidões e crescer verdadeiramente como profissionais.
O discurso dos professores não me convencia, sempre fui “CDF” e agora estou tendo muitas dificuldades em me concentrar e progredir nas matérias. O semestre vai chegando à metade e ainda não estava convencida de que o Projeto de Inovação me favorecia. Então tive uma idéia! Eu sentia que os professores não viam que existiam alunos descontentes com o Projeto, pois nos momentos coletivos nem sempre os alunos falavam tudo o que estavam sentindo, mas na hora do intervalo entre amigos as opiniões eram bem diferentes. Então, minha ideia foi elaborar uma pesquisa de opinião aos alunos em relação ao Projeto, mas para que a professora idealizadora do projeto aprovasse a ação, essa pesquisa não poderia ter perguntas tendenciosas, e foi o que fiz. Com dificuldades consegui elaborá-la e a professora Paloma aprovou a publicação aos alunos dos 1o e 5o semestres. Nela havia perguntas como: Você conhece a origem do projeto de inovação? Já ouviu falar sobre aprendizagem através de projetos? Qual seu grau de satisfação como participante do projeto de inovação? Um parágrafos pedindo opiniões, etc. Publiquei para que fosse respondido de forma anônima e os participantes pudessem responder com total sinceridade.
Ao final da pesquisa obtivemos uma quantia significativa de respostas, o que futuramente se tornou mais uma ferramenta valiosa para os professores conhecerem as opiniões dos alunos. Para minha surpresa poucos sabiam a origem do projeto, poucos conheciam as escolas inovadoras, a maioria tinha um grau de satisfação regular (maior do que era o meu), e através das opiniões foi muito interessante saber que os alunos aprovaram a necessidade do projeto inovador, apesar das dificuldades que estavam passando. Isso me intrigava, pois percebi que não era possível voltar atrás. Então comecei a pesquisar sobre os métodos inovadores, sobre a Escola da Ponte e, por fim, li o artigo (que pode ser lido aqui) “Aprendizes do futuro: As inovações começaram" de Léa Fagundes, que fez mudar minha visão de ensino e aprendizagem bruscamente.
Tudo fazia sentido agora! Meu orientador não estava me impondo nada, ele apenas era meu guia, estimulador, meu professor. Percebi que as formas de avaliação eram todas partes do meu ciclo de aprendizagem e o Projeto de Inovação foi inspirado em mentes brilhantes da história da educação, que serviram de inspiração para nossos idealizadores, visando o crescimento de seus alunos, futuros docentes, que poderão produzir frutos na história da educação através da semente lançada hoje.
Após essa quebra de paradigma em minha mente, candidatei-me a bolsista do projeto, a fim de aprender mais e de perto e, tanto poder contribuir com os professores, como poder ajudar meus amigos de classe a aderirem verdadeiramente à causa. Meu primeiro ato concreto como bolsista do projeto, mediante devida autorização, foi lançar outra pesquisa de opinião juntamente com a outra bolsista, Daniela. O resultado dessa pesquisa foi motivador:
  • As medidas tomadas para melhoria do projeto através de ideias dos alunos já implantadas foram aplaudidas;
  • Descobrimos que os alunos são solidários. Os que têm mais dificuldades pedem ajuda aos que têm mais facilidade com uma determinada matéria;
  • Os alunos estão recorrendo mais aos professores das disciplinas e ao orientador.
  • Muitos dos discentes reconheceram a necessidade de melhorar o senso de responsabilidade e outras virtudes necessárias ao bom estudante;
  • O grau de satisfação dos alunos em relação ao projeto melhorou consideravelmente.
Em minhas conclusões pessoais, penso que nós alunos estivemos acostumados pela escola convencional a receber o conhecimento "semi-pronto", o que nos deixou “preguiçosos”. Talvez essa seja nossa dificuldade inicial, aprender a aprender.

Um ponto negativo foi que muitas idéias de projetos de aprendizagem surgiram, mas poucos projetos foram postos em prática neste semestre. Os professores têm conversado com os alunos sobre colocarmos as idéias em prática desenvolvendo-as como pequenos projetos. Creio que esse seja o próximo passo. Estamos evoluindo e abraçando a causa, crentes de que futuramente colheremos frutos cada vez maiores.


Ana Paula Pereira
Estudante do 1o Semestre
21/06/2017

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Olhando de fora!

É interessante a possibilidade de observar o desenvolvimento do projeto, participando como membro da equipe, no entanto não inserida efetivamente nele.

Estou trabalhando com uma turma que não está ainda participando do projeto, ou seja, está no modelo tradicional que perpetua na educação, no entanto esta turma está atenta a tudo que se passa com os colegas que estão tendo a oportunidade de viver uma experiência inovadora.

Obviamente as opiniões se diferem, especialmente respaldadas pelos alunos envolvidos... os que estão se empenhando e valorizando a experiência de terem uma autonomia nunca antes vivenciada e outros que mantêm uma certa resistência, possivelmente fruto da acomodação e conforto de "assistirem" aula.

Em conversa com essa turma, avaliando as expectativas e análises fruto das observações, foi possível inferir algo que eu antes já suspeitava. Os alunos que são comprometidos com a própria aprendizagem  acataram a ideia e anseiam em viver a experiência, no entanto o oposto ainda persiste, os que esperam pelo último suspiro para resolverem as coisas apresentaram uma certa resistência, vez que a autonomia vem acompanhada da responsabilidade inerente ao processo, bem como de uma disciplina em relação ao desenvolvimento do próprio percurso de estudo.

O "medo" do novo pode ser percebido, o desconforto com a mudança é bem visível, no entanto, a argumentação dos que estão convivendo com colegas inseridos no Projeto de Inovação, especialmente o que moram em repúblicas, que acompanham o dia a dia do trabalho acaba contaminando os demais que começam a vislumbrar uma nova possibilidade de aprendizagem, mais significativa e coerente com seus próprios anseios.

Como todo projeto inovador, como toda novidade de vida, a inconsistência do que realmente vai ser vivido e experimentado traz desconfiança, desconforto, mas aos poucos a compreensão do real valor do que vai ser vivido acaba contagiando.

Há ainda resistências, mas há também uma disposição e abertura para o novo, tanto que a própria turma está se mobilizando para propor ideias, bem  como discutir pontos avaliados por quem não está vivendo de fato a Projeto.

Maria Aparecida Vieira Salomão
Professora da Área de Educação
19/06/2017

terça-feira, 6 de junho de 2017

Nuvem de Objetivos Pedagógicos


Como relatado na postagem do dia 26 de maio, os primeiros passos do Projeto de Inovação foram dados no início do ano letivo de 2017. Para tanto, o coletivo de professores retomou a proposta com os estudantes do quinto semestre, que já estavam familiarizados com a iniciativa, e a apresentou aos estudantes ingressantes do curso.

Considerando que os calouros poderiam vir de experiências escolares mais convencionais, e que, portanto, a proposta que viria ser adotada na licenciatura era muito diferente da que eles estavam habituados, tomou-se o cuidado de diluir a apresentação do projeto ao longo de vários dias.

Nesse processo, inicialmente, foram discutidas as ideias gerais, a essência da proposta e, conforme iam surgindo indagações, questões mais específicas do projeto iam sendo apresentadas e debatidas. Os discentes ficaram empolgados com a possibilidade de estruturarem seu próprio percurso de aprendizagens, de acordo com seus interesses e talentos, respeitando seu ritmo de aprendizagem...

Ao lado da empolgação também havia dúvidas, a insegurança de se lançar em algo novo. Isso ocorreu (e ainda ocorre!) tanto com os estudantes, quanto com os professores e equipe sociopedagógica (grupo multidisciplinar que também atua no processo formativo dos discentes do IFSP). O contato com depoimentos e leituras que evidenciavam que esses sentimentos são inerentes ao processo de inovação nos fortalecia (fortalece!) e encorajava (encoraja!) a seguir em frente.

Uma das indagações iniciais dos estudantes consistiu no que seria estudado por eles, ou seja, como eles saberiam o que precisava ser aprendido. É nesse contexto que se apresentou e iniciou-se a construção da “Nuvem de Objetivos Pedagógicos”, dispositivo pelo qual estudantes e professores definiram coletivamente os objetivos de aprendizagem para o primeiro semestre do curso. É constituída por três subnuvens: da base comum curricular; dos objetivos específicos, e; dos objetivos não cognitivos.

  A primeira a ser construída foi a nuvem da base comum curricular. Inicialmente, o projeto pedagógico do curso (PPC), que estava disponível no site do IFSP, foi analisado coletivamente e, dele, extraiu-se os objetivos e conteúdos de cada disciplina. Esses objetivos e conteúdos foram discutidos e, na maioria das vezes, reescritos de forma que fizessem mais sentido para os envolvidos. Esse processo valorizou o PPC e contribuiu para que os discentes tenham percebido, mesmo que de maneira introdutória, a importância desse “documento vivo”.

O fato dos professores também estarem aprendendo com o Projeto de Inovação ficou evidente quando objetivos foram acrescentados à nuvem sem, antes, terem sido discutidos pelos/com os estudantes. Percebido que a edificante etapa de construção coletiva da nuvem não tinha sido atendida, voltou-se atrás e novas rodadas de discussão foram realizadas. Ainda é possível avançar nesse quesito e, nesse sentido, a ideia de que o projeto está (e sempre estará!) em construção, é alentadora.

A próxima nuvem de aprendizagem construída foi a dos objetivos específicos. Os estudantes foram convidados a discutir e elencar interesses individuais e coletivos que eles gostariam de desenvolver de maneira integrada aos objetivos presentes na nuvem anterior, ou seja, nuvem da base comum curricular. Os estudantes perceberam que eles poderiam aprender os conteúdos e atingir os objetivos das disciplinas nos contextos de seu interesse, integrando, portanto, os objetivos das disciplinas com seus objetivos pessoais. Por exemplo, alguns discentes relataram ter interesse em aprender técnicas de pesagem e de medida de volumes de líquidos por meio da produção de sabão e sabonete líquido.

Por fim, estudantes e professores discutiram e construíram a nuvem dos objetivos não cognitivos. Nela foram elencados valores e atitudes como solidariedade, planejamento, gestão do tempo, honestidade, empatia, autonomia, responsabilidade e consciência ambiental. O intuito é refletir sobre, discutir e colocar em prática esses (e outros) valores ao longo das atividades acadêmicas, com vistas a contribuir para uma formação mais holística do licenciado em química no IFSP-Capivari.

João Batista de Medeiros
Professor da Área de Química
06/06/2017

Professores(as) orientadores(as)

Professores(as) orientadores(as) Nas postagens de 06 de junho e 24 de agosto foi relatada a maneira pela qual os objetivos de aprendizag...